O dono ou a dona dos olhos que dedicam este tempo para seguir linha por linha com o fim de saber o que escrevemos em uma noite de domingo levemente fria, deve já ter ouvido ou lido certamente a frase aspaseada que abre nossa coluna: “O home é lobo para o homem”, que pode também vir escrita: “O homem é o lobo do homem”.
Muitos consideram-na como a máxima eternizada na obra “Leviatã” (1651) do filósofo Thomas Hobbes (1588-1679), nascido em um lugarejo inglês chamado Westport. Não é errôneo reproduzir isto, mas em absoluto sim, pois a oração é proveniente de Plauto – ou Titus Maccius Plautus –, pensador romano que viveu entre 230 a.C. e 180 a.C., que a escreveu no latim erudito da sua época: “Homo homini lupus”, em que pronunciada lê-se: ‘Ômo ômini lúpus’, para que a curiosidade seja atenuada pela cara leitora ou pelo caro leitor.
A utilização da imortal “O homem é lobo para o homem” harmoniza com um fato presenciado por nós no sábado dia 09 de junho deste ano, cujo primeiro semestre está praticamente sepultado. Poderia ter sido um ensejo pomposo, onde nele fez-se presente, em carne, osso e pescoço, o excelentíssimo senhor governador da Bahia Jacques Wagner, que cumpre o seu segundo mandato consecutivo (2007 a 2010 foi o primeiro e o atual findará em 2014).
Tentaremos recriar toda a situação aproveitando tudo ou de tudo um pouco.
A manhã corria sob um céu que mostrava e escondia o sol, enquanto na praça, circundada por algumas casas comerciais, uma igreja católica e um templo batista Betel, as pessoas iam se aglomerando embaixo de um palanque branco que mais lembrava uma tenda de luau ou de festa “rave”.
Até que para um lugar pouco conhecido, a presença do governador trouxe comedida empolgação aos seus moradores pelo fato de muitos menosprezarem o interesse de “ver o homem”. Bom, o certo é que, aproximadamente, teve ali no logradouro um pouco de gente varzedense, até porque aquele “pouco” era constituído por contratados pela prefeitura, temendo que se acaso não mostrassem a cara – muitos! – e segurassem a bandeira do partido do prefeito, o PT – alguns! –, poderiam sofrer represálias. Assim é um local provinciano...
De repente, a expectativa foi quebrada pelo apitaço que ecoava mais dentro que fora daquele “palanque-tenda”, em conjunto com as palavras de ordem saídas das bocas mestiças de um aglomerado de professores do Estado, oriundos da localidade e de outras vizinhas, que estavam em greve: “Traidor! Traidor! Traidor!” era um brado; “Turista! Turista! Turista!” foi outro, dentre vários que atraíam a atenção dos ouvintes, ora com as cabeças dirigidas para a fala do governador, ora com elas seduzidas pela celeuma reivindicatória. E a vale salientar que a ida do chefe do executivo estadual foi para a inauguração de obras feitas com recursos do Estado.
O que tem de relação da célebre frase com a passagem de Jacques Wagner em Varzedo, município baiano incrustado no Recôncavo baiano? Tão-somente devido a guerra de interesses – ou o ser humano “querer devorar” ao outro – ter sido polarizada no interior do ambiente de lona: governador VERSUS grevistas; oposição local VERSUS situação local; contratados VERSUS que anseiam serem contratados; deputados situacionistas VERSUS deputados “oposicionistas” (?). E estariam satisfeitos muitos dos policiais ali presentes para guarnecerem sua excelência, o chefe do executivo estadual, após a greve mal resolvida em fevereiro deste ano?
Em um local onde nome de político finado foi usado para obter votos, prefeito com baixo grau de escolaridade dizia “assustar” do que “sustar o cheque”, chefe do executivo municipal considerado como “despótico” dialogava com sindicatos dos servidores públicos, lideranças políticas semanalmente rezam – em dias correntes – o terço na igreja católica do lugar com carolas e seguidores e amigos brigam entre si motivados pela paixão quando a matéria é defender “seu lado” político, seria muito exagerado dizer que lá, assim como em outros lugares talvez, “o homem é (ou não é) lobo do homem”?
Sem deixar de lado um último fato ocorrido naquele dia, ao findar o pronunciamento do governador um agrupamento de poucos varzedenses, utilizados para aplaudir os discursos dos políticos no “palanque-tenda”, viraram-se para os professores com gritos e vaias menosprezando-os como se estivessem em época eleitoral, sendo que alguns daqueles “poucos varzedenses” eram pais e mães de estudantes do colégio estadual (Colégio Estadual Nossa Senhora da Conceição) onde alguns daqueles professores lecionam.
Foto: Internet
Texto: Jorge Amorim (amorimdoporto@hotmail.com)
Outros textos do autor: http://www.municipiosemfoco.com.br/colunas/jorge-amorim
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