Raul Seixas e Chico Anysio. O lançamento nacional do documentário sobre o Maluco Beleza nos cinemas, nesta sexta-feira (23/03/12), coincidiu com a morte do humorista, criador de tipos inesquecíveis: Coalhada, Alberto Roberto, Painho, Pantaleão, Justo Veríssimo e muitos outros.
Além de nordestinos, um da Bahia e outro do Ceará, esses dois grandes artistas brasileiros têm em comum uma história que não é contada no filme “Raul Seixas: O início, o meio e o fim”
O fato me foi narrado pelos Panteras: Eládio, Carleba e Mariano, há 15 anos, quando os procurei a fim de fazer uma reportagem sobre os 30 anos de gravação do disco “Raulzito e Os Panteras” para a Gazeta Mercantil, no suplemento Nordeste. O LP inaugural, que dizem o vinil está valendo R$ 5 mil pela sua raridade, completa este ano 45 anos.
Mas lá atrás num encontro ocorrido no excelente restaurante Paraíso Tropical, no Resgate, o trio que acompanhou Raul em seus primórdios me contou muitas saborosas histórias sobre o período de formação do Pai do Rock Brasileiro na Bahia. E também sobre a tentativa fracassada de conquistar o Sul Maravilha.
Boa parte dos relatos, o que deu para caber numa página de jornal, em formato standard, está na reportagem publicada pela Gazeta Mercantil. A outra parte continua nos microcassetes que viraram MP3 para, quem sabe, um dia virar um livro.
As histórias dos Panteras sobre Raul só não estão mesmo é no documentário, dirigido pelo laureado fotógrafo e diretor também do filme sobre Cazuza, Walter Carvalho. O cunho autoral do documentário desprezou os depoimentos dos integrantes da primeira banda do Maluco Beleza. Eládio, Carleba e Mariano só aparecem no filme numa bela cena, com suas silhuetas sob a montagem de imagens de Raul, tocando músicas do disco.
Thildo Gama também foi preterido. Parceiro da primeira banda “Os Relâmpagos do Rock”, ele só aparece em fotos. E Thildo estava vivo quando das filmagens.
Aproveito para render homenagens a Thildo Gama, que ao lado de Sylvio Passos e Kika Seixas, teve um importante papel na preservação da memória de Raul. Com certeza foi com base nos livros que ele escreveu sobre o Maluco Beleza que se conseguiu muitas referências históricas para o filme.
Peraí, eu não esqueci da história de Raul com Chico Anysio. Então, os Panteras contam que, quando chegaram ao Rio de Janeiro, em junho de 1967, mesmo mês em que os Beatles lançaram “Sgt. Pepper’s”, eles se defrontaram com o infortúnio da falta de grana para retirar os instrumentos no Aeroporto Santos Dumont, que eles tinham embarcado antes.
É aí que se evidencia não ser nenhum golpe de marketing pessoal, a generosidade de Chico Anysio, famosa pela força dada por ele aos colegas comediantes menos afortunados, exigindo a contratação desses pela Globo para participarem de seus programas, entre eles o “Escolinha do Professor Raimundo.
Raulzito e Os Panteras haviam participado de eventos e viajado com Chico Anysio pela Bahia. Como a casa do parente de Mariano que os hospedava ficava na Urca, mesmo bairro onde estava localizada a TV Tupi-Rio, eles foram lá à procura do humorista. Vê se conseguiam alguma pontinha no programa dele e ganhavam alguns caraminguás para pegar os instrumentos.
Foram muito bem recebidos por Chico Anysio, que arranjou um jeito de encaixá-los em seu programa. Seriam a banda que entreteria a claque nos intervalos da gravação e também participariam do quadro do Coronel Limoeiro e Tereza Cristina, como o grupo que tocava na festinha que ela promovia na ausência do Coronel, que chegaria de surpresa.
Quando estava tudo certo, Raulzito e Os Panteras revelaram o problema dos instrumentos retidos no aeroporto. Chico Anysio, compreensivo, lhes adiantou o cachê, lembrando-os: “É a primeira vez na história da TV Tupi em que um cachê é pago antes da apresentação”.
Deu tudo certo e foi no Chico Anysio Show, programa que era gravado e distribuído em videoteipe para todo o País, que Raul Seixas, junto com Os Panteras, fez sua primeira exibição nacional na televisão. Antes só haviam aparecido localmente, na TV Itapoan. O documentário de Walter Carvalho é muito bom, mas não é o definitivo sobre a vida de Raul Seixas. Ainda tem muita coisa para ser contada.
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