LOGO TURISMO E AFINS

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Ideia do Afródromo oscila entre visibilidade e segregação

Henrique Mendes

  • Como prévia de 2014, Cortejo Afródomo desfilou no circuito Osmar este ano
A criação de um quarto circuito de festas no Carnaval, desta vez no bairro do Comércio, causa controvérsias antes mesmo da efetivação do projeto, prevista para 2014. Algumas entidades e personalidades da sociedade civil consideram que o circuito Afródromo, idealizado para ser um espaço de valorização da cultura "afroascendente", possa provocar reações contrárias às pretendidas, como a segregação e delimitação dos blocos afro.


Em enquete sobre o tema, proposta pelo Portal A TARDE desde a última sexta-feira, 15, dos 1.186 internautas que votaram até as 12 horas desta segunda (18), 61% dos participantes posicionaram-se contra a criação do Afródromo. Já 39% dos votantes mostraram-se a favor da implementação do novo circuito.

O presidente do grupo Olodum, João Jorge, também se opõe ao Afródromo, como os 61% de leitores que votaram na enquete de A TARDE. O argumento dele é que a criação do novo circuito não seria a melhor forma de inserção da população negra no Carnaval. Para João Jorge, os representantes dos blocos afro devem buscar mais espaço nas agremiações já existentes, reformulando-os, ao invés de pleitearem novos circuitos.


O vereador e professor Edvaldo Brito (PTB) também é contrário a criação do Afródromo. Para o político, os circuitos existentes no carnaval surgiram sob a espontaneidade do público, sendo que os governos estadual e municipal atuaram como instrumentos de organização dos espaços. Segundo Edvaldo, um circuito criado para os blocos afro não se manisfetaria com a mesma naturalidade.
O vereador aborda que para maior integração do negro no carnaval não seria necessária a "criação de um novo gueto". Para ele, o interesse do público deve estar focado na reestruturação e redemocratização dos circuitos já existentes.  "Quem quiser o Afródromo tem que revelar quais são os interesses. Sei que este interesse não é a extensão do negro na folia. Quem tem força para criar um novo circuito, tem força para fazer os já existentes se remanejarem", conclui.

Defensores - O  fundador e presidente do Ilê Ayê, Antonio Carlos dos Santos (Vovô), considera natural a existência de críticas, mas não concorda que o novo circuito possa contribuir para uma segregação do carnaval. "Não será um espaço fechado. Receberemos diversos convidados, diversos artistas. A diferença é que agora teremos um produto comandado pelos blocos afro. Isso significa maior visibilidade e oportunidade de negócios", destaca Vovô.

O presidente do Ilê completa que os blocos afro não deixarão de desfilar nos circuitos tradicionais. O Afródromo representaria, deste modo, um espaço a mais para as agremiações. "As pessoas que se posicionam contra irão entender o projeto com o tempo", acredita.

O secretário de Desenvolvimento, Turismo e Cultura, Guilherme Bellintani, também defende a criação do novo circuito. Conforme o profissional, o surgimento do afródromo não interrompe a luta do município por ampliação de espaços para os blocos afro nos espaços já tradicionais.  "A exclusão vemos hoje. Precisamos colocar os blocos na frente da fila e também fomentar a criação de novos espaços", defende o secretário.

Bellintani destaca que a criação de um novo circuito já se justificaria pela sobrecarga dos demais espaços. Além disso, argumenta o secretário,  as características contemplativas dos blocos afro demandam uma apreciação diferenciada das demais agremiações.

Opinião popular - A criação de um novo circuito, dedicado aos blocos afro, também divide opiniões nas ruas. A estudante Laís Oliveira, 19 anos, por exemplo, acredita que o público vai estranhar a mudança. "A iniciativa é boa, mas acho que o povo prefere que os blocos desfilem todos juntos, de forma integrada. A criação de um novo circuito criará um dispersão", acredita a estudante.
Já Maicon Santos, 22 anos, defende que o Afródomo irá possibilitar uma maior contemplação da cultura negra, já que os espetáculos poderão ser vistos com maior tranquilidade. "É um desfile bonito, mas as pessoas acabam ficando dispersas no meio de tantos trios. A iniciativa vai garantir uma maior apreciação do show", acredita.

O Afródromo foi idealizado pela Liga dos Blocos Afro, composta por Filhos de Gandhy, Ilê Aiyê, Carlinhos Brown, Cortejo Afro, Timbalada, Muzenza e Malê Debalê, com o propósito ser um espetáculo capaz de ressaltar a beleza e a força econômico-criativa da cultura negra.
Procurado pela equipe de A TARDE, Carlinhos Brown informou, por meio da sua assessoria de imprensa, que prefere não se posicionar sobre a polêmica no momento.

Texto original na íntegra: http://atarde.uol.com.br/carnaval/2013/materias/1484733-ideia-do-afrodromo-oscila-entre-visibilidade-e-segregacao

Nenhum comentário:

Postar um comentário