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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

As duas “febres” da maioria por Jorge Amorim


 
O escritor russo Anton Tchekhov (1860-1904) deixou no seu conto “O beijo” a seguinte pergunta: “[...] chegará também para eles o dia em que [...] terão uma casa espaçosa, família, um jardim, quando também eles terão a possibilidade de tratar as pessoas com carinho, ainda que insincero, torná-las fartas, embriagadas, contentes?” Estava então o contista, nascido em terras eslavas, falando da reação de oficiais diante de uma vida envolvida por conflitos militares em plena Rússia dos czares. O que aquela longa indagação, todavia, tem de vinculação com a nossa discussão nesta coluna?



Conscientes e absolutamente cientes de que em toda regra há exceção, aproveitamos aquele trecho do eminente escritor a fim de refletirmos sobre o que chamamos de “duas ‘febres’” de grande fatia dos brasileiros de hoje em dia: o consumir e o chamar a atenção, terminações verbais (“ir” e “ar”) amplamente derivadas nas desenfreadas atitudes citadas. Em ambas, muita gente está pouco se lixando para contemporâneos problemas sociais brasileiros, se importando sim com o usufruto e o auto-pavoneamento.

As correntes políticas do Partido dos Trabalhadores (PT) que influenciam o mecanismo econômico do governo Dilma Rousseff (2011-2014) têm como discurso o fato de o Brasil estar com mais de 53% de pessoas que ascenderam à classe C, isto é, com milhares de brasileiros comprando, tomando empréstimos bancários e de agiotas, gastando sem a disciplina de poupar, deixando a impressão de estarmos vivendo um “brazilian way of life” (“modo de vida brasileiro”), fazendo uma relação – desculpe-nos o anacronismo – com o “modo de vida norte-americano”, que se espalhou a partir dos anos 1930 durante a era do presidente democrata norte-americano Franklin Delano Roosevelt (1933-1945).

O “new deal” (“novo acordo”) petista coloca o econômico como a “salvação” para os outrora desprovidos de bens de consumo, bens esses antes somente obtidos pelas classes méida e alta. Veículos, celulares de última geração, roupas de grife, calçados, alimentos, relógios e óculos são alguns dos variados usufrutos. Até que há aqueles “emergentes”, não se pode negar, preocupados com o seu crescimento educacional ou o dos seus filhos, embora haja parca preocupação de muitos governos municipais e estaduais, incluindo o governo federal, para se criar reformas educacionais com o objetivo de estimular a criticidade e a interpretação dos estudantes.

Mas para quê isto? Para quê termos muitas massas encefálicas crítica e interpretativamente politizadas se o que mais interessa aos petistas – e a outros governos de outros partidos – “desenvolvimentistas”, aqueles que consideram como função principal do Estado ditar as normas econômicas – agora entende, caro leitor ou cara leitora, o motivo da enorme carga tributária no Brasil? –, é ver brasileiros consumindo? E o exagerado usufruto torna esses idiotizados pelo narcisismo excessivo, já que com mais dinheiro no bolso eles podem melhorar na imagem e na vaidade. “Será que estou engordando?”, “preciso comprar aquele perfume que vi na vitrine”, “necessito comprar aquele carro logo”.

Estas três perguntas reforçam o “império do ego” no país que é o segundo maior consumidor de cosméticos do mundo. Não estamos querendo aqui ser o “martelo” para “condenar com veredicto” a época em que muitos podem ter o que há pouco tempo atrás era mais difícil. A nossa intenção é aconselhar para incitar a disciplina econômica e o equilíbrio entre o apego material e a valorização do conhecimento. É difícil ter uma “casa espaçosa”, como sonho realizado, se as burrices da indisciplina e da falta de prevenção, de olho no gasto, podem resultar em mais de 230 jovens mortos em uma danceteria, em pessoas ferids num estádio de futebol e tantos e tantos corpos sepultados após acidentes de trânsito. Ah, esquecemos! “É o econômico, seu [colunista] estúpido!”.

O texto original e na íntegra está no site: http://www.municipiosemfoco.com.br/colunas/jorge-amorim     

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