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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Entrevista com Elpidio Bastos

O músico e ativista cultural baiano Elpídio Bastos foi entrevistado por mim, para o blog Brasil Diversificado. Por ser um grande representante da cultura popular, vale a pena ver de novo este bate papo com o artista!

 

 
Blog: Para os que te conhecem, Samurai Negro, para os que não te conhecem, apresente-se, por favor: o espaço é seu, Elpidio Bastos!
 
Elpídio Bastos: Comecei na música influenciada pelos meus irmãos que eram músicos na época, e pela minha mãe que me deu o meu primeiro violão e também uma guitarra. Depois de um tempo tocando nas bandas de escola, precisaram de um baixista e eu me convoquei, e nunca mais larguei o instrumento. Acabei me profissionalizando e, sendo convidado por vários artistas locais como Daniela (Companhia Clic), Ivete Sangalo, Carlinhos Brow, Lazzo, Ricardo Chaves, Carlos Pita, até chegar no Olodum.
Autor de dois discos, o primeiro, lançado em 2001, com o título PRAZER, o qual se pode traduzir exatamente o que quero passar para o público (o PRAZER de fazer música). MEU TESOURO, é como chama sua segunda obra. Nesta o artista trás batidas mais eletrônicas. São 11 faixas com muita qualidade tanto nas composições como no bom gosto dos arranjos e programações. Trata-se de um disco mais romântico. Além disso, sou diretor musical da Banda Olodum há 15 anos, e venho tentando traçar nesse minha vida, aprendizado e cada vez mais melhoras tanto na música quanto na vida, em seu dia a dia.


Blog: Seus traços marcantes e trajetória diversificada na música popular, aliados a uma longa carreira, o tornam um profissional muito respeitado na música baiana. Como você lida com isso?

Elpídio Bastos: Eu sempre adorei música e fui muito influenciado pela minha família, por ter muitos parentes músicos. Então acredito que a partir do ponto que você gosta daquilo que faz e transforma em uma profissão, tudo fica mais natural. Você acaba tornando-se um bom profissional naturalmente porque sempre vai existir a vontade de saber mais, de estudar mais e isso naturalmente faz com que você evolua profissionalmente. Quanto aos traços: devo isso aos meus pais, eu sinceramente não sei o que eles inventaram pra que eu nascesse desse jeito!


Blog: Suas nuances na música expressam-se de diversas formas. Afinal, você é músico contrabaixista, backing-vocal, canta, compõe etc. Dentre essas funções na música, quais delas têm maior representação para você?

Elpídio Bastos: Eu, como havia falado anteriormente, quando você gosta acaba desenvolvendo cada vez mais os entremeios da sua profissão. No início tive interesse em aprender a tocar violão com a convivência de amigos de escola, acabei encarando o contrabaixo por uma necessidade de uma banda que não tinha quem fizesse! Durante a vida profissional, entre shows e gravações, acabei me interessando pelo mundo do estúdio, lembro bem que foi em São Paulo que isso começou a pintar, em uma gravação que fiz com o Olodum. Quando acaba de gravar os baixos nas músicas, não ia embora e sim ficava até tarde vendo o resto do processo de gravação. A partir daí comecei a aprender mais e me tornei também produtor. A vida sempre está lhe dando chances, basta você aproveitar.


Blog: Samba, Salsa, Baladas, Releituras, Funk, Pop, o que tocar você dança. De onde vem tanta diversidade?

Elpídio Bastos: Geralmente, quando faço viagens pro exterior estou sempre participando de festivais e neles, como de costume, sempre acontecem apresentações de várias bandas, de vários estilos, e minha curiosidade sempre fala alto e está sempre presente pra saber o que vem acontecendo de novo. Acredito que a partir daí absorvo as influências da música do Mundo.


Blog: Quem são suas referências musicais dentro e fora do Brasil?

Elpídio Bastos: Gosto de muitos seguimentos musicais. Entre eles MPB, Instrumental, Rock Progressivo, etc. No Brasil tenho cantores como Pedro Mariano, Djavan, Gilberto Gil, Lenine, Maria Rita, Vanessa da Mata, Arthur Maia, Nico Assumpção, e no exterior fico com Pewter Gabriel, Phil Collins, Sting, Marcus
Miller, Joe Stone, Whitney Huston.


Blog: Conte-nos um pouco sobre os dois discos lançados no decorrer de sua carreira.

Elpídio Bastos: O primeiro CD, Prazer, foi gravado num estúdio de amigo e produtor Marinho. Eu tinha toda pré-produção montada e precisava de um estúdio e um produtor pra desenvolver o trabalho. Na época não tinha dinheiro pra entrar em estúdio, então o que restou foi pedir ajuda. Fizemos uma audição e ele ficou encantado com as músicas e resolvemos então gravar o primeiro CD. Já o segundo, nessas idas e vindas de estúdio, encontrei outro grande amigo e produtor, Ricardo Cavalcante, que já conhecia o meu trabalho e resolvemos fazer um segundo CD (Meu Tesouro), com a produção dele.


Blog: Como foi trabalhar tanto tempo com o Olodum? Qual a importância de dirigir o balé folclórico da Bahia?

Elpídio Bastos: No Olodum eu fui, na época, convidado por um produtor deles e, hoje, presidente da Fundação Palmares, Zulu Araujo. Na época, o Olodum estava colocando instrumentos harmônicos em sua banda e ele achou que seria interessante minha presença e do meu irmão Tinho Santana (guitarrista). Acabei aceitando o convite e hoje me transformei em Diretor Musical da banda.
Quanto ao Balé, eu não fui dirigindo, fui convidado somente pra tocar como baixista. Então, fizemos tour aqui no Brasil e também na Holanda. Lá eu permaneci por um ano, pois não estava tendo tempo de fazer os três trabalhos.



Blog: Como você consegue dividir-se entre tantas atividades nas artes?

Elpídio Bastos: Então, teria que ser mágico realmente. Mas hoje me dedico a certas produções de CDs, Olodum e o meu trabalho. Diante disso, dá pra acertar as coisas, pois tenho uma boa relação com Olodum, que sempre respeitou meu trabalho e não trava nas horas de choque. As outras coisas eu mesmo administro, então, não preciso virar mágico por enquanto!



Blog: Você, Elpídio, toca bem nas rádios baianas. Como é a receptividade do seu trabalho na Bahia e nos demais Estados do Brasil?

Elpídio Bastos: Bem, as rádios que eu toco aqui em Salvador são rádios ditas “alternativas”, que são rádios que têm um público formador de opinião então, ser ouvido por essas pessoas já me deixa bem feliz porque sei que as críticas e os elogios quando vem são sinceros. Fazendo com que eu tome mais cuidado com as composições e arranjos. Quanto ao outros Estados, sempre recebo noticias de que as músicas estão tocando em uma rádio.


Blog: Muito mais que um músico, você é um ativista cultural. Como é sobreviver da cultura no Brasil?
Elpídio Bastos: Hoje, eu sinto que a cultura musical do Brasil, ficou ramificada, pois, em cada Estado existe um estilo que é sustentado pelas rádios e TVs locais, impulsionando as pessoas ouvirem o que eles querem... Então, às vezes fica difícil quebrar isso, mas acredito que exista agora, com mais força, a opção pela internet, dando assim a oportunidade de você buscar coisas diferentes daquelas que são estabelecidas como regra nas rádios. Resumindo, é realmente difícil sobreviver da boa cultura no País, mas ainda existe um bote salva vidas pra aqueles que querem.


Blog: Você trabalhou com Brown, Ivete, Daniela, Jonga Cunha, Lazzo e outros tantos nomes de peso na música baiana, já excursionou algumas vezes para fora do Brasil e cantou com cantores estrangeiros. Quem ainda "falta", Elpídio, ter em seu currículo?

Elpídio Bastos: Na verdade, eu estabeleci um trabalho com essas pessoas, como acompanhante e até dirigindo seus trabalhos, mas elas não foram pessoas que estiveram inseridas no meu. Então, acredito que ainda falta muita gente pra me deixar mais feliz!


Blog: Em dois momentos distintos da sua carreira, você gravou “Esquadros”, de Adriana Calcanhoto, e “Nasci para Bailar”, imortalizada na voz de Nara Leão. Como você encara estas releituras?

Elpídio Bastos: Esquadros foi uma música que ouvi pela primeira vez, quando estava no Rio e voltando pra Salvador, passando pela Lagoa. Fiquei muito encantado ao ouvi-la, até aparecer a oportunidade de regravá-la de forma diferente, ou melhor dizendo, da minha forma na época. Enquanto “Nasci para Bailar”, aconteceu quando estava fazendo minhas pesquisas musicais e vi que ela seria uma ótima música a ser regravada, também de forma diferente. Acho que o resultado foi satisfatório pra todos!


Blog: Encerraremos esta entrevista concedendo o espaço para você deixar uma mensagem a nossos leitores. Jogue duro!

Elpídio Bastos: Bem, gostaria de primeiro agradecer a oportunidade de ter participado dessa entrevista, assim como ao público que tem o maior carinho em acompanhar meu trabalho, me dando maior força e impulso pra continuar nessa luta. No mais, gostaria de ainda ver nossa terra mais justa, com os artistas que temos, e que muitas vezes não são considerados a altura. Como no caso de um grande amigo que tive o prazer de fazer meu último show ao seu lado, Saul Barbosa. E deixo a dica, se não existe a oportunidade de ouvi-los em radio, quem sabe na internet possamos ter.



Bate Bola com Elpídio Bastos




Amor: cheiro

Vida: mistério

Fé: necessário

Família: tudo

Deus: meu anjo da guarda.

Amigos: lado esquerdo do peito.

Uma palavra: esperança.

Uma lembrança: meu irmão.

Sempre: ir em frente.

Nunca: drogas.

Talvez: um filho.

Bahia: terra da felicidade. 

Fotos: Arquivo pessoal Elpídio Bastos.
Conheça mais de Elpídio Bastos em: http://www.myspace.com/elpdiobastos

* Video de divulgação do DVD de Elpídio Bastos, 2009. Video originalmente publicado no You Tube.

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