O músico e ativista cultural baiano Elpídio
Bastos foi entrevistado por mim, para o blog Brasil Diversificado. Por ser um grande representante da cultura popular, vale a pena ver de novo este bate papo com o artista!
Blog: Para os que te conhecem, Samurai
Negro, para os que não te conhecem, apresente-se, por favor: o espaço é seu,
Elpidio Bastos!
Elpídio Bastos: Comecei na
música influenciada pelos meus irmãos que eram músicos na época, e pela minha
mãe que me deu o meu primeiro violão e também uma guitarra. Depois de um tempo
tocando nas bandas de escola, precisaram de um baixista e eu me convoquei, e
nunca mais larguei o instrumento. Acabei me profissionalizando e, sendo
convidado por vários artistas locais como Daniela (Companhia Clic), Ivete
Sangalo, Carlinhos Brow, Lazzo, Ricardo Chaves, Carlos Pita, até chegar no
Olodum.
Autor de dois discos, o primeiro,
lançado em 2001, com o título PRAZER, o qual se pode traduzir exatamente o que
quero passar para o público (o PRAZER de fazer música). MEU TESOURO, é como
chama sua segunda obra. Nesta o artista trás batidas mais eletrônicas. São 11
faixas com muita qualidade tanto nas composições como no bom gosto dos arranjos
e programações. Trata-se de um disco mais romântico. Além disso, sou diretor
musical da Banda Olodum há 15 anos, e venho tentando traçar nesse minha vida,
aprendizado e cada vez mais melhoras tanto na música quanto na vida, em seu dia
a dia.
Blog: Seus traços marcantes e
trajetória diversificada na música popular, aliados a uma longa carreira, o
tornam um profissional muito respeitado na música baiana. Como você lida com
isso?
Elpídio Bastos: Eu sempre
adorei música e fui muito influenciado pela minha família, por ter muitos
parentes músicos. Então acredito que a partir do ponto que você gosta daquilo
que faz e transforma em uma profissão, tudo fica mais natural. Você acaba
tornando-se um bom profissional naturalmente porque sempre vai existir a vontade
de saber mais, de estudar mais e isso naturalmente faz com que você evolua
profissionalmente. Quanto aos traços: devo isso aos meus pais, eu sinceramente
não sei o que eles inventaram pra que eu nascesse desse jeito!
Blog: Suas nuances na música expressam-se de diversas formas. Afinal, você é músico contrabaixista, backing-vocal, canta, compõe etc. Dentre essas funções na música, quais delas têm maior representação para você?
Elpídio Bastos: Eu, como havia
falado anteriormente, quando você gosta acaba desenvolvendo cada vez mais os
entremeios da sua profissão. No início tive interesse em aprender a tocar violão
com a convivência de amigos de escola, acabei encarando o contrabaixo por uma
necessidade de uma banda que não tinha quem fizesse! Durante a vida
profissional, entre shows e gravações, acabei me interessando pelo mundo do
estúdio, lembro bem que foi em São Paulo que isso começou a pintar, em uma
gravação que fiz com o Olodum. Quando acaba de gravar os baixos nas músicas, não
ia embora e sim ficava até tarde vendo o resto do processo de gravação. A partir
daí comecei a aprender mais e me tornei também produtor. A vida sempre está lhe
dando chances, basta você aproveitar.
Blog: Samba, Salsa, Baladas,
Releituras, Funk, Pop, o que tocar você dança. De onde vem tanta
diversidade?
Elpídio Bastos: Geralmente,
quando faço viagens pro exterior estou sempre participando de festivais e neles,
como de costume, sempre acontecem apresentações de várias bandas, de vários
estilos, e minha curiosidade sempre fala alto e está sempre presente pra saber o
que vem acontecendo de novo. Acredito que a partir daí absorvo as influências da
música do Mundo.
Blog: Quem são suas referências
musicais dentro e fora do Brasil?
Elpídio Bastos: Gosto de
muitos seguimentos musicais. Entre eles MPB, Instrumental, Rock Progressivo,
etc. No Brasil tenho cantores como Pedro Mariano, Djavan, Gilberto Gil, Lenine,
Maria Rita, Vanessa da Mata, Arthur Maia, Nico Assumpção, e no exterior fico com
Pewter Gabriel, Phil Collins, Sting, Marcus
Miller, Joe Stone, Whitney
Huston.
Blog: Conte-nos um pouco sobre os dois discos lançados no decorrer de sua carreira.
Elpídio Bastos: O primeiro CD,
Prazer, foi gravado num estúdio de amigo e produtor Marinho. Eu tinha toda
pré-produção montada e precisava de um estúdio e um produtor pra desenvolver o
trabalho. Na época não tinha dinheiro pra entrar em estúdio, então o que restou
foi pedir ajuda. Fizemos uma audição e ele ficou encantado com as músicas e
resolvemos então gravar o primeiro CD. Já o segundo, nessas idas e vindas de
estúdio, encontrei outro grande amigo e produtor, Ricardo Cavalcante, que já
conhecia o meu trabalho e resolvemos fazer um segundo CD (Meu Tesouro), com a
produção dele.
Blog: Como foi trabalhar tanto tempo
com o Olodum? Qual a importância de dirigir o balé folclórico da
Bahia?
Elpídio Bastos: No Olodum eu
fui, na época, convidado por um produtor deles e, hoje, presidente da Fundação
Palmares, Zulu Araujo. Na época, o Olodum estava colocando instrumentos
harmônicos em sua banda e ele achou que seria interessante minha presença e do
meu irmão Tinho Santana (guitarrista). Acabei aceitando o convite e hoje me
transformei em Diretor Musical da banda.
Quanto ao Balé, eu não fui dirigindo,
fui convidado somente pra tocar como baixista. Então, fizemos tour aqui no
Brasil e também na Holanda. Lá eu permaneci por um ano, pois não estava tendo
tempo de fazer os três trabalhos.
Blog: Como você consegue dividir-se
entre tantas atividades nas artes?
Elpídio Bastos: Então, teria
que ser mágico realmente. Mas hoje me dedico a certas produções de CDs, Olodum e
o meu trabalho. Diante disso, dá pra acertar as coisas, pois tenho uma boa
relação com Olodum, que sempre respeitou meu trabalho e não trava nas horas de
choque. As outras coisas eu mesmo administro, então, não preciso virar mágico
por enquanto!
Blog:
Você, Elpídio, toca bem nas rádios baianas. Como é a receptividade do seu
trabalho na Bahia e nos demais Estados do Brasil?
Elpídio Bastos: Bem, as rádios
que eu toco aqui em Salvador são rádios ditas “alternativas”, que são rádios que
têm um público formador de opinião então, ser ouvido por essas pessoas já me
deixa bem feliz porque sei que as críticas e os elogios quando vem são sinceros.
Fazendo com que eu tome mais cuidado com as composições e arranjos. Quanto ao
outros Estados, sempre recebo noticias de que as músicas estão tocando em uma
rádio.
Blog: Muito mais que um músico, você é
um ativista cultural. Como é sobreviver da cultura no Brasil?
Elpídio Bastos: Hoje, eu sinto
que a cultura musical do Brasil, ficou ramificada, pois, em cada Estado existe
um estilo que é sustentado pelas rádios e TVs locais, impulsionando as pessoas
ouvirem o que eles querem... Então, às vezes fica difícil quebrar isso, mas
acredito que exista agora, com mais força, a opção pela internet, dando assim a
oportunidade de você buscar coisas diferentes daquelas que são estabelecidas
como regra nas rádios. Resumindo, é realmente difícil sobreviver da boa cultura
no País, mas ainda existe um bote salva vidas pra aqueles que
querem.
Blog: Você trabalhou com Brown, Ivete,
Daniela, Jonga Cunha, Lazzo e outros tantos nomes de peso na música baiana, já
excursionou algumas vezes para fora do Brasil e cantou com cantores
estrangeiros. Quem ainda "falta", Elpídio, ter em seu currículo?
Elpídio Bastos: Na verdade, eu
estabeleci um trabalho com essas pessoas, como acompanhante e até dirigindo seus
trabalhos, mas elas não foram pessoas que estiveram inseridas no meu. Então,
acredito que ainda falta muita gente pra me deixar mais feliz!
Blog:
Em dois momentos distintos da sua carreira, você gravou “Esquadros”, de Adriana
Calcanhoto, e “Nasci para Bailar”, imortalizada na voz de Nara Leão. Como você
encara estas releituras?
Elpídio
Bastos: Esquadros foi uma música que ouvi pela primeira vez, quando
estava no Rio e voltando pra Salvador, passando pela Lagoa. Fiquei muito
encantado ao ouvi-la, até aparecer a oportunidade de regravá-la de forma
diferente, ou melhor dizendo, da minha forma na época. Enquanto “Nasci para
Bailar”, aconteceu quando estava fazendo minhas pesquisas musicais e vi que ela
seria uma ótima música a ser regravada, também de forma diferente. Acho que o
resultado foi satisfatório pra todos!
Blog: Encerraremos esta entrevista
concedendo o espaço para você deixar uma mensagem a nossos leitores. Jogue
duro!
Elpídio Bastos: Bem, gostaria
de primeiro agradecer a oportunidade de ter participado dessa entrevista, assim
como ao público que tem o maior carinho em acompanhar meu trabalho, me dando
maior força e impulso pra continuar nessa luta. No mais, gostaria de ainda ver
nossa terra mais justa, com os artistas que temos, e que muitas vezes não são
considerados a altura. Como no caso de um grande amigo que tive o prazer de
fazer meu último show ao seu lado, Saul Barbosa. E deixo a dica, se não existe a
oportunidade de ouvi-los em radio, quem sabe na internet possamos
ter.
Bate Bola com Elpídio
Bastos
Amor: cheiro
Vida: mistério
Fé: necessário
Família: tudo
Deus: meu anjo da guarda.
Amigos: lado esquerdo do peito.
Uma palavra: esperança.
Uma lembrança: meu irmão.
Sempre: ir em frente.
Nunca: drogas.
Talvez: um filho.
Bahia: terra da felicidade.
Fotos: Arquivo pessoal Elpídio Bastos.
Conheça mais de Elpídio Bastos em: http://www.myspace.com/elpdiobastos
* Video de divulgação do DVD de Elpídio Bastos, 2009. Video originalmente publicado no You Tube.
Entrevista Publicada em: http://brasildiversificado.blogspot.com/2010/12/brasil-diversificado-entrevista-elpidio.html
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