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sábado, 19 de novembro de 2011

CONVERSA AÇÃO COM PROF. KACIANNI FERREIRA

Abrimos a série CONVERSA AÇÃO que visa trazer apresentar profissionais de diversas áreas em nosso blog. Começamos esta série, "trocando uma idéia" com a arte educadora Kacianni de Sousa Ferreira, que é Graduada em Educação Artística pela Universidade Federal do Piauí e pós-graduada em Cultura e Arte Barroca pela Universidade de Ouro Preto. Este bate papo foi também publicado no blog Brasil Diversificado, onde pudemos com esta divulgação auxiliar na promoção das disciplinas de arte e cultura das escolas do Brasil.
 
Blog: Professora Kacianni, é um prazer imenso recebê-la aqui, apresente-se aos nossos leitores!
Kacianni: Sou Kacianni de Sousa Ferreira. Nasci em Teresina, Piauí, terra das mais quentes do Brasil, mas resido em Natal há quase vinte anos. Costumo dizer que sou piauiense de nascença e potiguar de coração.

Blog: Vamos falar da sua atuação docente, qual sua formação, e de que forma você contribui para melhoria da educação no Brasil?
Kacianni: Sou arte educadora, formada em Educação Artística pela Universidade Federal do Piauí, em 1992, e pós-graduada em Cultura e Arte Barroca, pela Universidade de Ouro Preto – UFOP – Minas Gerais, em 1996.
Acredito que estou contribuindo um pouquinho através de minhas aulas e oficinas com material reciclável. Ministro aulas, oficinas e cursos para crianças de 4 a 80 anos. Confeccionamos brinquedos, instrumentos musicais percussivos, jogos educativos e peças utilitárias com material reciclável. Ensino as crianças, jovens e adultos de forma lúdica e isso é maravilhoso, pois as aulas são dinâmicas e envolventes e a aprendizagem mais significativas para todos.


Blog: A disciplina de Artes, muitas vezes, não tem a valorização merecida nas escolas públicas e privadas. Em sua opinião, por que isto acontece?
Kacianni: Graças a Deus não tenho tido esse problema. Nas escolas onde lecionei e leciono o ensino de arte tem o mesmo valor das demais disciplinas. E quando se realiza um trabalho contextualizado o resultado é bastante positivo.
Com a interdisciplinaridade o ensino de arte está mais valorizado. Os gestores estão percebendo a importância da arte na vida das crianças, dos jovens e dos adultos, mesmo porque o ensino de arte engloba diversas linguagens (artes visuais, teatro, música, dança, cinema etc.). No entanto, sabemos de realidades onde o ensino de arte não é bem aceito, mas acredito que cabe ao profissional da área mudar esse quadro. Se ele for estimulado e compromissado com seu trabalho, com certeza a aprendizagem se dará de forma lúdica e diferenciada.

Blog: Atividades interdisciplinares, envolvendo todas as disciplinas seriam alternativas eficazes para maior rendimento dos alunos nas atividades e projetos pedagógicos?
Kacianni: Sim, com certeza. E os educadores estão indo por esse caminho. Quem ainda não tiver fazendo isso, é bom começar.

Blog: Em 2010, você lançou um livro pela editora vozes intitulado: “Brincadeiras e Brinquedos” um manual fundamental para educadores das diversas esferas da educação. Conte-nos como surgiu a idéia do livro, e qual foi sua expectativa ao lançá-lo.

Kacianni: Tenho três livros lançados. O primeiro, em 2003, na área espiritualista. O segundo, “Confecção de Brinquedos e Brincadeiras”, em 2009, e o terceiro, “Brincadeiras e Brinquedos”, pela Editora Vozes, em abril/2010.
Como a procura pelas minhas oficinas e cursos aumentaram, os alunos pediram uma apostila. Fiz uma apostila com cinco páginas. No entanto, em 2007 comecei a digitar todos os brinquedos, brincadeiras, instrumentos musicais, jogos educativos, dinâmicas, cantigas de roda etc. que conhecia e já fazia em sala de aula e nas oficinas particulares. Em 2009, o livro estava pronto. Fiz uma edição própria, pequena, com recursos próprios, só para colegas professores e alunos. Quando o livro estava para sair da gráfica, veio a idéia de enviar o boneco para cinco grandes editoras, de âmbito nacional. Dessas, três tiveram interesse.
Escolhi a Vozes pela mesma estar em quinze capitais brasileiras e em Lisboa, Portugal. A alegria foi das maiores, senti-me premiada, pois tive todo um trabalho reconhecido.
Meu livro pode ser encontrado nas principais livrarias do país. Está sendo elogiado por profissionais de diversas áreas e a procura está tão boa que já saiu a segunda edição.

Blog: Como é a repercussão deste trabalho? E as oficinas que você ministra, como é a aceitação do público para elas?

Kacianni: A repercussão é das melhores. Estou recebendo constantes convites para participar de feiras, salões e bienais de livros, além de convites para ministrar oficinas com material reciclável e escrever artigos sobre educação e proteção ambiental. A aceitação do livro e das oficinas é muito boa, graças a Deus. Tanto por parte das crianças, como de jovens e adultos, principalmente educadores.

Arte com sucata


Blog: As suas oficinas trabalham com sustentabilidade, preservação do meio ambiente, interação entre os grupos. De onde vieram estas preocupações?

Kacianni: Tudo começou quando fui a duas praias da zona sul em Natal e Parnamirim, ambas no Rio Grande do Norte. Via muito lixo espalhado nas areias dessas praias. Isso me preocupou ao ponto de querer fazer a diferença. Comecei a recolher o lixo e colocá-lo nos latões de lixo que estavam, quase sempre, vazios. Depois comecei a pesquisar formas de transformar esse lixo. Li alguns livros e participei de oficinas. Pouco tempo depois, eu já estava ministrando oficinas de brinquedos com material reciclável. E as oficinas foram aumentando e se multiplicando. Também ministro oficinas de forma voluntária para ONGs, centros comunitários, igrejas, escolas públicas, shoppings etc. A intenção é que todos os participantes, sejam de oficinas particulares ou voluntárias, tornem-se multiplicadores e dessa forma possam colaborar com a redução do lixo nas ruas, nos rios e nos mares. Sabemos que muito precisa ser feito, mas se cada pessoa colaborar um pouco, a poluição e a destruição da natureza será amenizada. Temos de conscientizar a todos e as crianças também. Elas serão os adultos de amanhã.

Blog: O cenário atual da educação no Brasil satisfaz ou preocupa você? Enquanto educadores o que poderíamos fazer para reverter este quadro?

Kacianni: A educação no Brasil, infelizmente, não é prioridade. E isso é vergonhoso e preocupante. Sabemos que os pais têm um papel fundamental na educação de seus filhos. Os mesmos devem estimular seus filhos a estudar e respeitar seus professores e não apenas empurrá-los para a escola como se a educação fosse uma responsabilidade apenas da escola e dos professores. A verdadeira educação começa em casa. A escola dá continuidade.
Acredito que nossa educação básica será mais eficiente se tivermos profissionais mais compromissados. Para isso, são necessários mais cursos de formação; mais tempo para planejamento (preparar aulas, criar e realizar projetos); escolas com melhores estruturadas físicas, bons equipamentos e material adequado; quantidade reduzida de alunos em sala de aula (no máximo vinte e cinco); auxiliares em todas as salas com alunos portadores de necessidades educacionais especiais e melhores salários. É imprescindível, também, que as verbas para educação sejam utilizadas para esse fim e não remanejadas para outras áreas. Caso contrário, o índice de analfabetismo aumentará.

Blog: Deixe uma mensagem final para nossos leitores, professores e estudantes interessados em iniciar na profissão docente.

Kacianni: Como professora do ensino básico da rede pública na cidade do Natal, só posso dizer que as pedras e flores no caminho são muitas, mas sou otimista. Apesar de tudo, ensinar, para mim, é uma festa, seja qual for a faixa etária. Finalizo com uma frase de Rubem Alves que diz muito sobre a profissão docente: “O mestre nasce da exuberância da felicidade. Ser mestre é ensinar a felicidade.”


Contatos:

E-mail: kacianni@hotmail.com
Blog: brinquedoscomsucata.blogspot.com
Tel.: (84) 9999-9250/ 8807-7738


Saiba mais sobre Arte-Educação:



Objetivos da confecção de brinquedos, instrumentos musicais percussivos, jogos, cantigas de roda, dinâmicas e brincadeiras com materiais recicláveis em sala de aula:


  • Estimular as percepções visual, espacial, auditiva e tátil;
  • Desenvolver a coordenação motora ampla e fina;
  • Estimular e desenvolver as linguagens oral e escrita, a expressão facial e corporal, o ritmo, a agilidade mental, o equilíbrio, a lateralidade, a concentração, a atenção, o reflexo, a prontidão de reação, a criatividade e a autonomia;
  • Por meio de atividades de recreação livre e dirigida, educar os movimentos e colocar em jogo as funções intelectuais da criança, do adolescente, do jovem, do adulto e do idoso;
  • Oportunizar o desenvolvimento das linguagens musical e artística, além da construção do conhecimento lógico-matemático;
  • Estimular e desenvolver a psicomotricidade (processo que envolve a combinação de fatores biológicos; psicológicos e sociais, o que auxilia no desenvolvimento motor e intelectual), facilitando, assim, o processo de ensino-aprendizagem;
  • Desenvolver a educação ambiental e a consciência ecológica;
  • Estimular a socialização (interação com o ambiente social), o espírito de equipe, o companheirismo, a cooperação, a ética, a afetividade e outras boas atitudes;
  • Oferecer uma espécie de terapia pessoal e grupal nesse processo de sociabilização e convivência com os colegas;
  • Dar vazão ao excesso de energia e favorecer o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e moral (Piaget, 1967) dos alunos;
  • Desenvolver um processo onde trabalhamos e estimulamos as funções do pensamento, sentimento, emoção, intuição, percepção, fazendo emergir o criativo na revelação da condição humana: acertos, erros e tentativas;
  • Proporcionar alegria e prazer, convívio social sadio, estímulo intelectual, crescimento harmonioso e oportunidade de autodomínio, autoexpressão e autorrealização.


Dicas da professora Kacianni de atividades com materiais recicláveis:

Bilboquê

1) Bilboquê (Surgiu na França, no séc. XVI).
Material: 1 gargalo de garrafa plástica, barbante, 1 folha de jornal, tesoura, perfurador ou estilete.
Confecção: Pegue o gargalo da garrafa e faça um furo com perfurador.



2) Pião
Material: 1/3 de um palito de churrasco, 1 tampa plástica, martelo pequeno e 1 prego.
Confecção: Com o prego, faça um furo no centro da tampa. Encaixe o palito de churrasco na tampa e ajuste.
Como brincar: Rode o pião no chão ou em qualquer outra superfície plana e lisa. Segure na ponta do palito de churrasco e gire o pião com a ponta dos dedos.



3) Maracá
Material: 1 garrafa pet pequena, sementes cruas, jornal, fita adesiva, tinta guache p/ colorir.
Confecção: Retirar o rótulo da garrafa, lavar por dentro e por fora, após secar, colocar sementes de arroz, feijão ou outras. Pegar a folha de jornal, dobrar e passar a fita adesiva, formando o cabo para acoplar na garrafa. A pintura é opcional.
Observação: Para obter um som mais agudo e suave, coloque, apenas, sementes de arroz. Se preferir um som mais forte e mais grave, coloque sementes de feijão ou de milho. Isso serve para os demais instrumentos percussivos citados abaixo.

Entrevista concedida á Ana Carla Nunes
Fotos de Arquivos da própria entrevistada
Revisão Textual de Bárbara Ferreira e Beatriz Badim

Leia mais sobre o tema:


FERREIRA, Kacianni. “Brincadeiras e Brinquedos: da educação infantil à melhor idade”. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

QUEIROZ, Tânia Dias; MARTINS, João Luis. Pedagogia Lúdica: Jogos e brincadeiras de A a Z. São Paulo: Rideel, 2002.

OLIVEIRA, Denise Soares. Oficinas de recreio. São Paulo: Paulinas, 2003.

SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedoteca: a criança, o adulto e o lúdico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

YOGI, Chizuko. Aprendendo e brincando com música e com jogos. Belo Horizonte: Fapi, 2003.

ZATZ, Silvia. Brinca comigo!Tudo sobre brincar e os brinquedos. São Paulo: Marco Zero, 2006.

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