Abrimos a série CONVERSA AÇÃO que visa trazer apresentar profissionais de diversas áreas em nosso blog. Começamos esta série, "trocando uma idéia" com a arte educadora Kacianni de Sousa Ferreira, que é Graduada em Educação Artística pela Universidade Federal do Piauí e pós-graduada
em Cultura e Arte Barroca pela Universidade de Ouro Preto. Este bate papo foi também publicado no blog Brasil Diversificado, onde pudemos com esta divulgação auxiliar na promoção das disciplinas de arte e cultura das escolas do Brasil.
Blog: Professora Kacianni, é
um prazer imenso recebê-la aqui, apresente-se aos nossos leitores!
Kacianni: Sou
Kacianni de Sousa Ferreira. Nasci em Teresina, Piauí, terra das mais quentes do
Brasil, mas resido em Natal há quase vinte anos. Costumo dizer que sou piauiense
de nascença e potiguar de coração.
Blog: Vamos falar da sua
atuação docente, qual sua formação, e de que forma você contribui para melhoria
da educação no Brasil?
Kacianni: Sou
arte educadora, formada em Educação Artística pela
Universidade Federal do Piauí, em 1992, e pós-graduada em Cultura e Arte
Barroca, pela Universidade de Ouro Preto – UFOP – Minas Gerais, em
1996.
Acredito que estou
contribuindo um pouquinho através de minhas aulas e oficinas com material
reciclável. Ministro aulas, oficinas e cursos para crianças de 4 a 80 anos.
Confeccionamos brinquedos, instrumentos musicais percussivos, jogos educativos e
peças utilitárias com material reciclável. Ensino as crianças, jovens e adultos
de forma lúdica e isso é maravilhoso, pois as aulas são dinâmicas e envolventes
e a aprendizagem mais significativas para todos.
Blog: A disciplina de Artes,
muitas vezes, não tem a valorização merecida nas escolas públicas e privadas. Em
sua opinião, por que isto acontece?
Kacianni:
Graças a Deus não tenho tido esse problema. Nas escolas onde lecionei e leciono
o ensino de arte tem o mesmo valor das demais disciplinas. E quando se realiza
um trabalho contextualizado o resultado é bastante positivo.
Com a
interdisciplinaridade o ensino de arte está mais valorizado. Os gestores estão
percebendo a importância da arte na vida das crianças, dos jovens e dos adultos,
mesmo porque o ensino de arte engloba diversas linguagens (artes visuais,
teatro, música, dança, cinema etc.). No entanto, sabemos de realidades onde o
ensino de arte não é bem aceito, mas acredito que cabe ao profissional da área
mudar esse quadro. Se ele for estimulado e compromissado com seu trabalho, com
certeza a aprendizagem se dará de forma lúdica e diferenciada.
Blog: Atividades
interdisciplinares, envolvendo todas as disciplinas seriam alternativas eficazes
para maior rendimento dos alunos nas atividades e projetos
pedagógicos?
Kacianni:
Sim, com certeza. E os educadores estão indo por esse caminho. Quem ainda não
tiver fazendo isso, é bom começar.
Blog: Em 2010, você
lançou um livro pela editora vozes intitulado: “Brincadeiras e Brinquedos” um
manual fundamental para educadores das diversas esferas da educação. Conte-nos
como surgiu a idéia do livro, e qual foi sua expectativa ao
lançá-lo.
Kacianni:
Tenho três livros lançados. O primeiro, em 2003, na área espiritualista. O
segundo, “Confecção de Brinquedos e Brincadeiras”, em 2009, e o terceiro,
“Brincadeiras e Brinquedos”, pela Editora Vozes, em abril/2010.
Como a
procura pelas minhas oficinas e cursos aumentaram, os alunos pediram uma
apostila. Fiz uma apostila com cinco páginas. No entanto, em 2007 comecei a
digitar todos os brinquedos, brincadeiras, instrumentos musicais, jogos
educativos, dinâmicas, cantigas de roda etc. que conhecia e já fazia em sala de
aula e nas oficinas particulares. Em 2009, o livro estava pronto. Fiz uma edição
própria, pequena, com recursos próprios, só para colegas professores e alunos.
Quando o livro estava para sair da gráfica, veio a idéia de enviar o boneco para
cinco grandes editoras, de âmbito nacional. Dessas, três tiveram interesse.
Escolhi a Vozes
pela mesma estar em quinze capitais brasileiras e em Lisboa, Portugal. A alegria
foi das maiores, senti-me premiada, pois tive todo um trabalho
reconhecido.
Meu
livro pode ser encontrado nas principais livrarias do país. Está sendo elogiado
por profissionais de diversas áreas e a procura está tão boa que já saiu a
segunda edição.
Blog: Como é a
repercussão deste trabalho? E as oficinas que você ministra, como é a aceitação
do público para elas?
Kacianni: A
repercussão é das melhores. Estou recebendo constantes convites para participar
de feiras, salões e bienais de livros, além de convites para ministrar oficinas
com material reciclável e escrever artigos sobre educação e proteção ambiental.
A aceitação do livro e das oficinas é muito boa, graças a Deus. Tanto por parte
das crianças, como de jovens e adultos, principalmente educadores.
Arte com sucata |
Blog: As suas oficinas trabalham com sustentabilidade, preservação do meio ambiente, interação entre os grupos. De onde vieram estas preocupações?
Kacianni:
Tudo começou quando fui a duas praias da zona sul em Natal e Parnamirim, ambas
no Rio Grande do Norte. Via muito lixo espalhado nas areias dessas praias. Isso
me preocupou ao ponto de querer fazer a diferença. Comecei a recolher o lixo e
colocá-lo nos latões de lixo que estavam, quase sempre, vazios. Depois comecei a
pesquisar formas de transformar esse lixo. Li alguns livros e participei de
oficinas. Pouco tempo depois, eu já estava ministrando oficinas de brinquedos
com material reciclável. E as oficinas foram aumentando e se multiplicando.
Também ministro oficinas de forma voluntária para ONGs, centros comunitários,
igrejas, escolas públicas, shoppings etc. A intenção é que todos os
participantes, sejam de oficinas particulares ou voluntárias, tornem-se
multiplicadores e dessa forma possam colaborar com a redução do lixo nas ruas,
nos rios e nos mares. Sabemos que muito precisa ser feito, mas se cada pessoa
colaborar um pouco, a poluição e a destruição da natureza será amenizada. Temos
de conscientizar a todos e as crianças também. Elas serão os adultos de
amanhã.
Blog: O cenário atual
da educação no Brasil satisfaz ou preocupa você? Enquanto educadores o que
poderíamos fazer para reverter este quadro?
Kacianni: A
educação no Brasil, infelizmente, não é prioridade. E isso é vergonhoso e
preocupante. Sabemos que os pais têm um papel fundamental na educação de seus
filhos. Os mesmos devem estimular seus filhos a estudar e respeitar seus
professores e não apenas empurrá-los para a escola como se a educação fosse uma
responsabilidade apenas da escola e dos professores. A verdadeira educação
começa em casa. A
escola dá continuidade.
Acredito que nossa
educação básica será mais eficiente se tivermos profissionais mais
compromissados. Para isso, são necessários mais cursos de formação; mais tempo
para planejamento (preparar aulas, criar e realizar projetos); escolas com
melhores estruturadas físicas, bons equipamentos e material adequado; quantidade
reduzida de alunos em sala de aula (no máximo vinte e cinco); auxiliares em
todas as salas com alunos portadores de necessidades educacionais especiais e
melhores salários. É imprescindível, também, que as verbas para educação sejam
utilizadas para esse fim e não remanejadas para outras áreas. Caso contrário, o
índice de analfabetismo aumentará.
Blog: Deixe uma
mensagem final para nossos leitores, professores e estudantes interessados em
iniciar na profissão docente.
Kacianni:
Como professora do ensino básico da rede pública na cidade do Natal, só posso
dizer que as pedras e flores no caminho são muitas, mas sou otimista. Apesar de
tudo, ensinar, para mim, é uma festa, seja qual for a faixa etária. Finalizo com
uma frase de Rubem Alves que diz muito sobre a profissão docente: “O mestre
nasce da exuberância da felicidade. Ser mestre é ensinar a
felicidade.”
Contatos:
E-mail:
kacianni@hotmail.com
Blog:
brinquedoscomsucata.blogspot.com
Tel.: (84)
9999-9250/ 8807-7738
Saiba mais sobre
Arte-Educação:
Objetivos da confecção de
brinquedos, instrumentos musicais percussivos, jogos, cantigas de roda,
dinâmicas e brincadeiras com materiais recicláveis em sala de
aula:
- Estimular as percepções visual, espacial, auditiva e tátil;
- Desenvolver a coordenação motora ampla e fina;
- Estimular e desenvolver as linguagens oral e escrita, a expressão facial e corporal, o ritmo, a agilidade mental, o equilíbrio, a lateralidade, a concentração, a atenção, o reflexo, a prontidão de reação, a criatividade e a autonomia;
- Por meio de atividades de recreação livre e dirigida, educar os movimentos e colocar em jogo as funções intelectuais da criança, do adolescente, do jovem, do adulto e do idoso;
- Oportunizar o desenvolvimento das linguagens musical e artística, além da construção do conhecimento lógico-matemático;
- Estimular e desenvolver a psicomotricidade (processo que envolve a combinação de fatores biológicos; psicológicos e sociais, o que auxilia no desenvolvimento motor e intelectual), facilitando, assim, o processo de ensino-aprendizagem;
- Desenvolver a educação ambiental e a consciência ecológica;
- Estimular a socialização (interação com o ambiente social), o espírito de equipe, o companheirismo, a cooperação, a ética, a afetividade e outras boas atitudes;
- Oferecer uma espécie de terapia pessoal e grupal nesse processo de sociabilização e convivência com os colegas;
- Dar vazão ao excesso de energia e favorecer o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e moral (Piaget, 1967) dos alunos;
- Desenvolver um processo onde trabalhamos e estimulamos as funções do pensamento, sentimento, emoção, intuição, percepção, fazendo emergir o criativo na revelação da condição humana: acertos, erros e tentativas;
- Proporcionar alegria e prazer, convívio social sadio, estímulo intelectual, crescimento harmonioso e oportunidade de autodomínio, autoexpressão e autorrealização.
Dicas da professora Kacianni de atividades com materiais recicláveis:
Bilboquê |
1)
Bilboquê (Surgiu na França, no séc. XVI).
Material: 1
gargalo de garrafa plástica, barbante, 1 folha de
jornal, tesoura, perfurador ou
estilete.
Confecção:
Pegue o gargalo da garrafa e faça um furo com
perfurador.
2) Pião
Material: 1/3
de um palito de churrasco, 1 tampa plástica, martelo pequeno e 1 prego.
Confecção:
Com o prego, faça um furo no centro da tampa. Encaixe o palito de churrasco na tampa e ajuste.
Como brincar:
Rode o pião no chão ou em qualquer outra
superfície plana e lisa. Segure na ponta do palito de
churrasco e gire o pião com a ponta dos dedos.
3) Maracá
Material: 1
garrafa pet pequena, sementes cruas, jornal, fita
adesiva, tinta guache p/ colorir.
Confecção:
Retirar o rótulo da garrafa, lavar por dentro e
por fora, após secar, colocar sementes de
arroz, feijão ou outras. Pegar a folha de
jornal, dobrar e passar a fita adesiva, formando o cabo para acoplar na garrafa.
A pintura é opcional.
Observação:
Para obter um som mais agudo e suave, coloque, apenas, sementes de arroz. Se
preferir um som mais forte e mais grave, coloque sementes de feijão ou de milho.
Isso serve para os demais instrumentos percussivos citados
abaixo.
Entrevista concedida á Ana Carla Nunes
Fotos de Arquivos da própria entrevistada
Revisão Textual de Bárbara Ferreira e Beatriz Badim
Leia mais sobre o tema:
FERREIRA, Kacianni.
“Brincadeiras e Brinquedos: da educação infantil à melhor idade”. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2010.
QUEIROZ, Tânia Dias; MARTINS,
João Luis. Pedagogia Lúdica: Jogos e brincadeiras de A a Z. São Paulo:
Rideel, 2002.
OLIVEIRA, Denise Soares. Oficinas de recreio. São Paulo:
Paulinas, 2003.
SANTOS, Santa Marli Pires dos.
Brinquedoteca: a criança, o adulto e o
lúdico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
YOGI, Chizuko. Aprendendo e brincando com música e com
jogos. Belo Horizonte: Fapi, 2003.
ZATZ, Silvia. Brinca comigo!Tudo sobre brincar e os
brinquedos. São Paulo: Marco Zero, 2006.
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