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domingo, 6 de maio de 2012

A classe C sai do chão (Será?)

02 MAI 2012 - 15:05h

Quem mora nos mais de cinco mil e quinhentos municípios brasileiros deve estar “enjoado” de ver casas simples, contendo nas fachadas uma porta e uma janela pintadas à cal e algumas sem ainda terem sido rebocadas, ostentando nas cumeeiras externas as oblongas antenas de canais fechados das operadoras Via Embratel ou Sky – sendo esta última veiculadora, ou não, da transmissão em HD.

No interior de muitas daquelas casas, a persistência em ter um televisor de LED/HD foi motivada por discussões, e até mesmo brigas, entre os membros das famílias que não poderiam aceitar ver alguns dos seus vizinhos esbugalhando os olhos defronte a um aparelho de tela plana com 32 ou mais polegadas, enquanto sua estantes conservavam televisores à cores de última geração..., mas lá dos anos 90 do século XX.

Até alguns anos atrás, viajar de avião era um luxo a ponto de muitos passageiros trajarem ternos – para os patrícios portugueses, “fatos” – e vestidos caros para adequarem-se aos valores das passagens, que pareciam carnês de cheques, e ao que era servido durante os voos. Hoje, paradoxalmente, entre sanduíches com queijo quente e caramelos, além das passagens terem minorado por uma “pressão concorrencial” entre as empresas aéreas, as calças “jeans” básicas, os tênis e as camisetas proliferam nos aeroportos que fazem embarques/ desembarques domésticos e internacionais.

E os veículos automotores que antes estavam distantes da realidade financeira de milhões de brasileiros? Isso mudou, pois os financiamentos estimulados pelos créditos de juros baixos aproximaram os narizes de muitos do cheiro de carro novo, cheiro esse que se insere “ad eternum” no inconsciente dos consumidores. Os mais pavoneados transformam seus brinquedos de quatro rodas em “outdoors” ambulantes e em “trios elétricos” miniaturizados.

Eis a tão falada, tão exaltada, tão elogiada classe C, a categoria que, em hipótese alguma, dever ser alcunhada de “ex-pobres”, mas sim sob os eufemismos irônicos de “emergentes” e de “trabalhadores esforçados”. Roupas de diferentes grifes e os óculos da marca RayBan ou Dolce & Gabana simbolizam a capacidade que os “ex-pobres”... Ops! A classe C está tendo por seu poder de compra.

A relevância ascendente daquele naipe social chegou às telas das telenovelas da rede Globo, a exemplo das que estão sendo hoje veiculadas nos horários das 19 e das 21 horas, respectivamente as dramaturgias “Cheias de Charme” e “Avenida Brasil”. Enquanto a primeira contextualiza a ficção em torno de três lindas secretárias do lar, a segunda telenovela tem o perímetro carioca (a Avenida Brasil, localizada na cidade do Rio de Janeiro, que possui 58 quilômetros de extensão e é a maior avenida em extensão do Brasil) como protagonista aglutinador de personagens fictícios (?) da classe C, que hoje, em 2012, galga aproximadamente 54% dos mais de 192 milhões de brasileiros.

Que é muito bom vermos milhões de pessoas comerem frango todos os dias se quiserem – o que nos anos 80 do século passado era artigo só consumido aos domingos – e usufruindo de produtos inacessíveis pouco tempo atrás. Não é à toa que todos esses confortos têm engordado, literalmente, muita gente, resultado também dos churrascos, das cervejinhas, das dobradinhas, dos sarapatéis dos fins-de-semana e das sobremesas recheadas de açúcar branco, leite condensado, creme de leite e chocolate (a cara leitora ou o caro leitor ficou com fome? Calma).

Já que há acesso a todo isto e muito mais, qual o motivo da grande parcela da classe C se manter conformada com a corrupção no Brasil? Resposta: ora, “se eu” – pensamento de alguém daquela classe – “estou auferindo o que me satisfaz, para quê me preocupar com político ladrão?”

Como é ruim a carência educacional crítica aliada a alienação consumista. Triste presente, indefinido futuro.

Foto: Internet
Texto: Jorge Amorim (amorimdoporto@hotmail.com)

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